A arte de recortar, colar e recriar a vida
Autodidata, a artista niteroiense Joana Martins vem se revelando no universo da colagem

Tudo começou numa longa jornada de auto-conhecimento durante mais de seis meses de isolamento social imposto durante a pandemia de Covid-19 no Brasil e no mundo. Foi exatamente durante estes momentos de confinamento que a produtora Cultural e Audiovisual Joana Martins – e atualmente estudante de Design de Interiores – resolveu começar a explorar o universo das colagens. E o que à primeira vista poderia parecer um hobby, uma terapia ou um passatempo, acabou aflorando uma vocação e criatividade escondidas.
Nascida e criada em Niterói, a jovem moradora do bairro de São Lourenço tem apenas 33 anos, e é mãe da pequena Elis, de 2 anos e 5 meses. Com mais de 10 anos de carreira sempre permeada pela Arte, Cultura e Audiovisual, Joana Martins é estreante no mundo da colagem, mas tem chamado atenção pela qualidade e criatividade de suas obras.

“Sempre gostei de Arte, mas nunca me permiti a possibilidade de me ver como ‘criadora’. Ficava a maior parte das vezes na posição de observadora/espectadora. Não tenho formação acadêmica específica – não estudei Belas Artes ou Artes Visuais – e não tinha praticamente nenhum conhecimento sobre o que é a colagem, o processo e a ferramenta de Arte. O desejo de trabalhar com isso veio “do nada” durante a quarentena. Foi um processo natural e instintivo, e ao mesmo tempo uma viagem de auto-conhecimento. Este recolhimento compulsório fez com que pensássemos mais sobre nós, o que somos, e o que queremos melhorar”, conta Joana.
Coragem para iniciar numa nova atividade
O desafio de enxergar e enfrentar os seus próprios bloqueios de muitos anos fizeram-na ter a coragem suficiente para começar a imersão nesta nova atividade.
“Eu me considerava uma pessoa pouco habilidosa nos trabalhos manuais.Por vários anos, eu costumava falar que eu reprovei no recorte e cole na escola, e parece que isso acabou virando uma verdade. E aí, tantos anos depois, eu resolvi pegar a cola, a tesoura, o papel, a revista e mergulhar nesse processo manual da colagem”, complementa.
Decisão tomada, Joana pegou então umas revistas emprestadas com a mãe, e começou a deixar brotar o seu lado interno através da Arte. A maioria de suas colagens revelam também um estado psicológico e, por muitas vezes, um pensamento sobre a feminilidade. Porém, as interpretações podem ser múltiplas.
“Eu vejo as imagens e elas me transmitem coisas. Comecei a gostar dos resultados e me surpreender comigo mesma: é como se fosse uma força, como se eu tivesse quebrando uma barreira que eu mesma me impus a vida inteira, uma crença sobre minhas habilidades”, afirma.
Com um processo criativo e livre, baseado em puro instinto, Joana foi ganhando confiança, e começou a postar algumas de suas obras nas redes sociais. Rapidamente, ela começou a ganhar seguidores e admiradores de sua Arte.
“Vou me apropriando do pedaço de papel, recorto, rasgo, e monto um ‘quebra-cabeças’. Às vezes, vou montando pra chegar ao resultado final que eu goste mais, e é esse o processo”.

Do processo de criação manual ao digital
Bem recentemente – já no início de setembro – Joana resolveu expandir as fronteiras de experimentação entrando no processo de colagem digital, uma linguagem que também exigiu que ela quebrasse preconceitos consigo mesma.
“Sempre me considerei semi-analfabeta digital. Mas eu sabia que na colagem digital, abriria novas possibilidades. O processo manual, é como se não fosse você que conduzisse, mas os papéis te conduzem. Já o processo digital te dá outro tipo de liberdade: você faz buscas em bancos gratuitos de imagens, e é outra história. Além disso, no processo digital dá pra retornar, ‘desfazer’. No processo de colagem manual, você não tem esse recurso. Em ambos, porém, é possível colocar seus sentimentos e ideias em forma de novas imagens”, compara.

Com reproduções sendo vendidas a partir de R$30,00, a artista disponibiliza cópias de suas obras autorais em tamanhos A4 ou A3, sem a moldura. Ela também trabalha com encomendas temáticas especiais – como por exemplo, astrologia ou um quarto de bebê – com tema, processo, preço e tempo de entrega a combinar com o cliente.
Para Joana, o mais fascinante é acompanhar como as obras ganham vidas distintas, a partir do momento em que começam a ser vistas por outras pessoas.
” Eu às vezes faço uma colagem com um sentimento, e para as outras pessoas, a obra ganha outro significado. Aí vemos que a Arte é livre, ela precisa estar em contato com as pessoas para ganhar vida. Não espero e nem quero que a pessoa tenha a mesma interpretação que eu. O bom é perceber exatamente esta diversidade de olhar”, finaliza. Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho de Joana Martins, é possível ver todas as obras, e entrar em contato através da página no Instagram @joanalogicascolagens ou ainda por email [email protected]